ABRERP: UMA NOVA ENTIDADE PARA UMA ANTIGA LUTA
Por Luiz Hartmann*
A indústria da reciclagem de plásticos no Brasil vem enfrentando um período desafiador, com cargas tributárias insustentáveis, falta de incentivos, competitividade contra a grande oferta de materiais virgens e perda de mercado frente à importação de resinas vindas do exterior. Ao mesmo tempo, os representantes deste setor têm, em suas essências, uma força pulsante para dar cada vez mais visibilidade ao tema, destacando os benefícios do plástico reciclado para que o país avance em metas socioambientais e possa, enfim, vislumbrar a transição para uma economia mais circular.
Num movimento estratégico dos empresários dessa indústria, a criação de uma entidade com foco específico na reciclagem de plásticos é importante por várias razões. Assim, nasce a Associação Brasileira Empresarial dos Recicladores de Plásticos (ABRERP), com múltiplas missões. A primeira delas é viabilizar e trazer urgência a uma agenda própria, de defesa dos interesses específicos da cadeia da reciclagem, desconectada dos movimentos de produtores de plástico virgem.
Entre os temas principais a serem trabalhados, estão os graves desafios associados à poluição plástica, considerado um dos maiores problemas ambientais globais por impactar oceanos, biodiversidade, ecossistemas terrestres e, claro, a vida humana. Por meio dos especialistas que aprofundam o debate e alimentam as discussões, a associação vai fomentar soluções para o descarte inadequado do plástico e para a recuperação de resíduos já existentes.
Ainda existe uma crônica falta de entendimento sobre como funciona a reciclagem dos diferentes tipos de plástico e a importância disso para transformar não apenas hábitos de consumo da população, mas a forma como companhias de diversos setores e portes escolhem matérias-primas, desenvolvem seus produtos e se posicionam no mercado com (verdadeiras) práticas ESG e diferenciais competitivos. Uma iniciativa indispensável está na promoção de campanhas educativas para estimular o envolvimento público.
Todas as frentes se esbarram na meta de fechar o ciclo de vida útil do material, conectando empresas, governos, terceiro setor e consumidores em práticas de reutilização, reciclagem e reaproveitamento. O papel da entidade é essencial para identificar lacunas na cadeia de reciclagem, melhorar a logística reversa, investir em inovação tecnológica e viabilizar projetos em conjunto, de modo alinhado aos princípios da economia circular e do combate às mudanças climáticas.
No Brasil, alguns temas conseguem ser mais bem trabalhados quando existe algum tipo de pressão política. Uma organização focada na reciclagem vai pressionar autoridades na implementação de políticas públicas mais rígidas em relação ao descarte de plásticos, a fim de estabelecer metas obrigatórias de reciclagem e incentivar o uso de plástico reciclado na fabricação de novos produtos. Governos e associações podem atuar juntos para oferecer subsídios, incentivos fiscais ou benefícios competitivos a empresas que adotam práticas de sustentabilidade com o uso de plástico reciclado.
O país ainda carece de incentivos para o avanço da indústria da reciclagem. Devemos alavancar, através da entidade, parcerias de pesquisa para desenvolver tecnologias e processos de reciclagem mais eficientes, como a reciclagem química ou soluções para plásticos não recicláveis nos nossos modelos atuais. Neste cenário, só conseguiremos avançar por meio de cooperações com a academia e do apoio de investidores.
O incentivo à redução de resíduos plásticos e o apoio à reciclagem trazem oportunidades econômicas ímpares, para catadores, cooperativas, indústrias de transformação e a sociedade como um todo. Quando transformamos a cadeia da reciclagem em um setor robusto, profissionalizado, com investimentos e bons retornos, geramos empregos, processos ligados à produção industrial sustentável e ganhos socioambientais.
É hora de olhar atentamente para quem está na linha de frente da defesa da reciclagem plástica no Brasil, criando um cenário mais favorável de atuação e pensando em como estimular uma infraestrutura mais integrada, justa, potente e benéfica para atores diversos.
*Luiz Hartmann é Presidente Executivo da Associação Brasileira Empresarial dos Recicladores de Plásticos (ABRERP)