SÉRIE ECONOMIA CIRCULAR: nesta edição, Braskem
Nossa entrevistada é Fabiana Quiroga, Diretora de Economia Circular da Braskem na América do Sul.
Por Lúcia de Paula
Publicada em 29/10/2021. Atualizada em 05/06/2022.
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente – comemorado todo dia 05 de junho desde 1972, quando foi instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas) durante a Conferência das Nações Unidas, em Estocolmo, – estamos republicando algumas de nossas matérias especiais que mostram os esforços de empresas da cadeia produtiva de embalagens plásticas para a preservação dos recursos naturais e diminuição dos impactos ao meio ambiente. Confira a seguir, a entrevista com Fabiana Quiroga, Diretora de Economia Circular da Braskem na América do Sul.
PlásticoNews: Como a economia circular de embalagens plásticas é vista pela Braskem?
Fabiana Quiroga: O conceito é visto pela Braskem como um caminho responsável adotado para melhorar a sustentabilidade da cadeia produtiva. Tanto que, em novembro de 2018, tornamos público nosso compromisso em prol da economia circular, convidando outros atores da cadeia a fazerem o mesmo. Esse compromisso evoluiu em 2020 para economia circular de carbono neutro, visando a neutralidade de carbono na produção até 2050. O compromisso coloca a Braskem como parte da solução, trabalhando com todos os agentes interessados em transformar a economia linear em circular, na qual as necessidades da sociedade são atendidas por materiais, processos e sistemas mais inovadores e mais sustentáveis.
As inovações em plásticos são essenciais para permitir que a sociedade eleve os padrões de qualidade de vida e melhore a sustentabilidade por meio de produtos que evitem o desperdício e aumentem a eficiência. Além disso, é importante ressaltar que os plásticos desempenham um papel muito importante na entrega de um futuro mais sustentável. No setor automobilístico, por exemplo, os plásticos deixam os veículos mais leves e menos emissores de poluentes; nas embalagens, evitam o desperdício de alimentos; e, na saúde, como temos visto durante a pandemia do coronavírus, os plásticos contribuem para proteger as pessoas, para evitar a disseminação de doenças – esses são alguns exemplos de como o plástico pode melhorar a vida das pessoas.
PlásticoNews: Quais iniciativas de economia circular são desenvolvidas pela Braskem em suas operações no Brasil e região da América do Sul?
Fabiana Quiroga: A companhia definiu uma série de iniciativas para tornar sua operação mais ecoeficiente e influenciar a indústria na adoção de práticas de economia circular, um conceito focado em zero desperdício e fomentado pela Braskem, em linha com a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), seus 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o Acordo de Paris para o controle dos impactos das mudanças climáticas.
O posicionamento é baseado em sete dimensões: saúde e segurança, resultados financeiros e econômicos, eliminação de resíduos plásticos, combate a mudanças climáticas, ecoeficiência operacional, responsabilidade social e direitos humanos e inovação sustentável. Entre esses compromissos, os que se destacam pela relação com Economia Circular são:
Mudanças climáticas: reduzir em 15% as emissões de gases do efeito estufa até 2030 e seguir investindo no desenvolvimento de produtos de origem renovável ou outras tecnologias que permitam a companhia alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
Eliminação de Resíduos plásticos: fortalecer seu modelo de negócio circular incorporando 300 mil toneladas de resinas termoplásticas e químicos com material reciclado pós-consumo até 2025 e um milhão de toneladas até 2030; trabalhar para retirar do destino inadequado cerca de 1,5 milhão de toneladas de resíduos até 2030.
PlásticoNews: E quais projetos a empresa tem com relação tanto à economia circular, como PCR, embalagens de uso único ou outras soluções?
Fabiana Quiroga: Todos os projetos desenvolvidos pelas equipes da Braskem levam em consideração a economia circular, assim como toda a nossa operação é pautada pelo desenvolvimento sustentável. Algumas iniciativas que podem ser destacadas são os avanços nos investimentos em novas resinas de origem renováveis, como o polietileno e o EVA I’m green(TM) bio-based, feitos a partir de cana-de-açúcar, e o apoio à novas tecnologias, modelos de negócios e sistemas de coleta, triagem, reciclagem e recuperação de materiais.
As iniciativas englobam a promoção e o engajamento de consumidores em programas de reciclagem, por meio de ações educacionais de consumo consciente, o uso de ferramentas de avaliação de ciclo de vida e o apoio a ações de melhoria do gerenciamento de resíduos sólidos a fim de prevenir o descarte de lixo nos mares.
Como comentado, em 2020, o compromisso público em prol da Economia Circular, feito em 2018 evoluiu para novos objetivos mirando 2030, com metas mais ambiciosas e com foco em economia circular de carbono neutro, ampliando nossos esforços para a neutralidade de carbono até 2050 e anunciando a intenção de expandir nosso portfólio de produtos com conteúdo reciclado, chegando a 300 mil toneladas em 2025 e 1 milhão em 2030.
Para alcançar a neutralidade de carbono, nossa estratégia se concentra em 3 frentes de atuação: redução das emissões com foco na eficiência energética, bem como no aumento do uso de energia renovável nas operações atuais, estabelecendo parcerias que visam inovação e tecnologia; compensação de emissões com potenciais investimentos na produção de químicos e polímeros de origem renovável; e captura de emissões de carbono por meio da pesquisa e do desenvolvimento para seu uso como matéria-prima.
Para ampliar o volume de produtos reciclados, a Braskem vem desenvolvendo parcerias, inovações e tecnologias para alcançar seus objetivos. Como exemplo, a parceria com a Tecipar, empresa brasileira especializada em engenharia ambiental, que evitará que mais de duas mil toneladas de resíduos plásticos sejam despejadas anualmente em aterro sanitário de Santana de Parnaíba, na região metropolitana de São Paulo.
Além disso, em parceria com a Valoren, empresa especializada no desenvolvimento e operação de tecnologias para a transformação de resíduos, a companhia investiu R$ 67 milhões na construção de uma linha de reciclagem com capacidade para transformar cerca de 250 milhões de embalagens em 14 mil toneladas de resina pós-consumo de alta qualidade por ano. A previsão é que essa nova planta fique pronta no final de 2021.
Cabe ressaltar que para nós a economia circular é guiada pela cooperação entre todos os elos da cadeia produtiva do plástico: a indústria, a academia e o poder público, além de ser essencial a ampliação do consumo responsável, o descarte e gestão adequados dos resíduos plásticos, seja por meio de programas de incentivo ou orientações à sociedade.
PlásticoNews: Na sua opinião, o conceito de economia linear está com seus dias contados?
Fabiana Quiroga: A mudança da economia linear para a economia circular é essencial para manter os recursos naturais do planeta. Essa não é uma preocupação apenas da Braskem, mas de todo o mundo. A pauta já tem sido discutida amplamente e se torna ainda mais necessária diante das recentes pesquisas que implicam a necessidade pela mudança de comportamento da sociedade como um todo, o que naturalmente traz também adequação por parte das indústrias dos mais diversos segmentos.
O nosso objetivo é estruturar uma solução abrangente para impulsionar a gestão de resíduos plásticos e a economia circular, resultando em ações concretas que envolvam um novo olhar para o plástico, o que está atrelado a eliminar todo o plástico não necessário, a inovar para que os artigos plásticos sejam reutilizados e reciclados, além de circular todo o plástico para mantê-los dentro da economia e fora do meio-ambiente.
PlásticoNews: Como a Braskem tem reaproveitado os resíduos de suas operações, tanto nas fábricas do Brasil como da América do Sul? E qual percentual de todo ele é reaproveitado?
Fabiana Quiroga: A Braskem implementou a logística reversa de suas sacarias e big bags utilizados no transporte de suas resinas, reciclando-as e transformando-as em resinas com conteúdo reciclado. Foi certificada como Ocean Clean Blue, com ações em suas instalações para evitar que os pellets vão para o meio ambiente.
Além disso, o Programa de Reciclagem de Copos Descartáveis está implementado em nosso escritório e hoje já conta com quase 60 empresas participantes. https://www.pensamentoverde.com.br/imgreen/programa-de-reciclagem-de-copos-descartaveis/
Acrescentando, a Braskem passou a implementar desde julho uma nova estrutura no Centro de Tecnologia e Inovação de Triunfo/RS. Conhecida como Ilha de Reciclagem, a instalação será responsável por testar o desempenho das resinas recicladas e desenvolver produtos inovadores e sustentáveis que atendam às necessidades do mercado e cumpram o seu papel na redução do impacto ao meio ambiente. A iniciativa também visa fomentar o desenvolvimento da cadeia de reciclagem e seu mercado.
O projeto é pioneiro na indústria petroquímica brasileira e atenderá todas as regiões onde a empresa atua. Por meio de um hub de hardware, com equipamentos específicos para teste de resinas recicladas, será possível entender os desafios técnicos do reaproveitamento de matéria-prima atendendo às exigências de confiabilidade e as necessidades dos clientes e brand owners.
O investimento reforça a preocupação da Braskem em promover tecnologias para desenvolver resinas recicladas com maior qualidade, fazendo com que elas tenham cada vez mais relevância na cadeia de valor do plástico. Além de auxiliar o mercado com pesquisa e desenvolvimento, o projeto está diretamente relacionado ao compromisso da companhia de, até 2025, incluir 300 mil toneladas de resinas termoplásticas e produtos químicos com conteúdo reciclado em seu portfólio, um dos principais objetivos da empresa.
PlásticoNews: Nas matérias-primas de suas resinas, a Braskem já substitui alguma delas por resíduos, mesmo não sendo, obviamente, na totalidade?
Fabiana Quiroga: A Braskem tem ampliado o seu portfólio de resinas produzidas com resíduo plástico pós-consumo. Hoje contamos com mais de 30 produtos comerciais e em desenvolvimento para atendimento aos nossos clientes. Nosso objetivo é crescermos exponencialmente, atingindo 300mil toneladas em 2025 e 1MM em 2030. Nossas resinas são vendidas no porfólio I’m Green recycled.
No campo pós-consumo, ainda temos grandes desafios, principalmente quando falamos sobre o descarte adequado por parte do consumidor e as tecnologias de reciclagem. A Braskem, em parceria com a Valoren, empresa especializada em desenvolvimento e operação de tecnologias para a transformação de resíduos, viabilizará a instalação de uma linha de reciclagem na região de Indaiatuba, interior de São Paulo, ainda em 2021. A linha de reciclagem terá capacidade para transformar, por ano, 250 milhões de embalagens de polietileno e polipropileno de origem doméstica em 14 mil toneladas de PCR de alta qualidade.
Seguindo o caminho da sustentabilidade, a Braskem, nos Estados Unidos, também desenvolveu um caminho para a produção de polipropileno (PP) a partir de resíduos plásticos mistos e tecnologia de reciclagem avançada, junto com a Agilyx, especializada em reciclagem de plásticos pós-consumo, com amplo know-how em resíduos de difícil reciclagem, consistindo em mais uma maneira de colaborar com o avanço da economia circular na cadeia de valor de PP.
Também foi feita parceria com a Tecipar, empresa especializa em engenharia ambiental, para criação de uma usina de triagem que vai separar resíduos sólidos e orgânicos de materiais recolhidos na coleta pública dos municípios de Barueri e Santana de Parnaíba.
A Braskem também segue realizando estudos com apoio de universidades e centros de pesquisa para desenvolver tecnologias que complementem as alternativas atuais da reciclagem mecânica, transformando resíduos plásticos (como sacolas de mercado e filmes de embalagens) em matéria-prima novamente.
PlásticoNews: Sobre recursos de fontes renováveis, em quais resinas eles são utilizados, atualmente?
Fabiana Quiroga: A Braskem é líder de mercado e pioneira na produção de biopolímeros em escala industrial, resinas plásticas produzidas a partir de fonte renovável e, no caso da empresa, o etanol da cana-de-açúcar. Dentre este portfólio de produtos, identificados pela marca I’m greenTM bio-based, estão o polietileno (PE) e o copolímero etil acetato de vinila (EVA).
Os produtos sob a marca I’m greenTM podem ser de origem renovável (I’m greenTM bio-based), reciclada (I’m greenTM recycled) ou a mistura de ambos (I’m greenTM bio-based & recycled). Por ser produzido partir de matéria-prima renovável, o etanol da cana-de-açúcar, o polietileno I’m greenTM bio-based e o EVA I’m greenTM bio-based, são capazes de absorver, durante o seu processo produtivo, gás carbônico da atmosfera contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas. As resinas produzidas a partir de plástico reciclado pós-consumo, o I’m greenTM recycled, contribuem para que os resíduos plásticos sejam reinseridos na cadeia, por meio do descarte adequado e do processo de reciclagem, assim, fechando o ciclo.
O etanol da cana-de-açúcar, o polietileno I’m greenTM bio-based são capazes de absorver, durante o seu processo produtivo, gás carbônico da atmosfera contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas. Cada quilo de PE de origem renovável absorve até 3,09 kg de CO2. Além disso, a produção dessa matéria-prima também gera uma economia de energia de cerca de 80% em relação às rotas tradicionais.
Além de ser de fonte renovável, ou seja, não consumir recursos fósseis, e capturar CO2 por cada tonelada de produto durante todo o ciclo de fabricação, auxiliando na mitigação das mudanças climáticas, também vale ressaltar que o polietileno apresenta excelentes qualidades técnicas e de processabilidade. Essas características possibilitam grande versatilidade de aplicações em diversos setores, como higiene e limpeza, cosméticos, alimentício, automotivo, entre outros.
Em 2020, a Braskem e a dinamarquesa Haldor Topsoe, líder mundial no fornecimento de catalisadores, tecnologia e serviços para as indústrias química e de refino, anunciaram a primeira produção de MEG (monoetilenoglicol) de origem renovável em escala de demonstração.
O MEG é matéria-prima do PET (tereftalato de polietileno), que tem inúmeras aplicações e é fundamental para setores como o têxtil e de embalagens, principalmente garrafas de bebidas. Atualmente, o MEG é feito predominantemente com matérias-primas fósseis, como nafta, gás ou carvão. O mercado global de MEG representa um valor de aproximadamente 25 bilhões de dólares.
A tecnologia também produzirá, em menor quantidade, o MPG (monopropilenoglicol), produto com um amplo leque de aplicações que vão desde resinas poliéster insaturadas (UPR), muito comuns na construção civil, a produtos cosméticos.
Por fim, a Braskem lançou no primeiro semestre deste ano a primeira cera de polietileno (PE) do mundo de fonte renovável, direcionada para a produção de adesivos, cosméticos, tintas e compostos utilizados em processos de transformação das resinas termoplásticas. O produto, comumente utilizado como um agente modificador de viscosidade em diversas formulações, possui as mesmas propriedades e performance da versão feita com PE de origem fóssil. Produzido a partir do etanol da cana-de-açúcar, a nova solução oferece menor pegada de CO2, é reciclável e tem aplicação multimercado.
Com a chegada da cera de PE de fonte renovável ao mercado mundial, a Braskem inova e amplia o portfólio I’m greenTM bio-based com produtos que vão além das resinas existentes e fornecidas até hoje.
PlásticoNews: Quanto aos seus fornecedores e clientes, a Braskem faz alguma ação voltada ao incentivo para que eles adotem a economia circular em seus processos e fábricas?
Fabiana Quiroga: Hoje não é possível pensar em um modelo de negócio que não considere processos produtivos com menor impacto ambiental e práticas de economia circular, e a Braskem se coloca como corresponsável para ajudar o mercado a caminhar em direção a esse futuro. Para nossos integrantes, estar à frente de uma empresa comprometida com o desenvolvimento sustentável, lado a lado com os valores da cadeia em que estamos inseridos, traz o sentimento de pertencimento e colaboração, e é reflexo dos investimentos realizados nos últimos anos, quando conseguimos aliar teoria e prática no desenvolvimento de itens e produtos renováveis e reciclados.
Recentemente anunciamos a expansão de nossa capacidade de produção de eteno renovável, produzida a partir da cana-de-açúcar e utilizado para a produção de resinas renováveis que capturam CO2 da atmosfera, um dos gases causadores do efeito estufa. Essa expansão na produção de biopolímeros é reflexo do crescimento na demanda da sociedade e dos nossos parceiros por matérias-primas mais sustentáveis, que tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Com isso, a unidade industrial desse produto, localizada em Triunfo/RS, passará de sua capacidade de 200 mil toneladas por ano para 260 mil toneladas anuais. O projeto está orçado em US$ 61 milhões e deve ser finalizado no quarto trimestre de 2022.
Em paralelo, alinhado com a crescente demanda do consumidor por produtos sustentáveis, e cientes de que a educação é o melhor caminho para capacitar a sociedade sobre o uso adequado e o consumo consciente do plástico, construímos parcerias com foco em iniciativas para promover conteúdos educativos que estimulem as novas gerações a estarem conosco em um caminho mais sustentável. Um bom exemplo é a parceria que temos com o Instituto Akatu para o desenvolvimento e atualização constante do Edukatu, primeira rede online de aprendizagem sobre consumo consciente e sustentabilidade. O conteúdo disponível na plataforma trabalha consumo e pós-consumo e é direcionado para estudantes e professores do Ensino Fundamental do Brasil inteiro. Recentemente, lançamos juntos uma nova trilha de aprendizagem, por meio da qual será possível conscientizar os estudantes sobre a importância do plástico e todas as suas possibilidades, desde a produção até o descarte adequado e futuro retorno para o ciclo de vida.
Sobre a Braskem
Criada em agosto de 2002, com sede na capital de São Paulo, a Braskem é a maior produtora de resinas termoplásticas nas Américas e a maior produtora de polipropileno nos Estados Unidos. Sua produção é focada nas resinas polietileno (PE), polipropileno (PP) e policloreto de vinila (PVC), além de insumos químicos básicos como eteno, propeno, butadieno, benzeno, tolueno, cloro, soda e solventes, entre outros. Juntos, compõe um dos portfólios mais completos do mercado, ao incluir também o polietileno verde, produzido a partir da cana-de-açúcar, de origem 100% renovável. www.braskem.com.br