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Como Sobreviver ao Antidumping: Guia Prático para Empresas Convertedoras

Em agosto de 2025, o Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex) aprovou medidas antidumping provisórias sobre as importações de resinas de polietileno provenientes dos Estados Unidos e do Canadá. As sobretaxas estabelecidas são de US$ 238,49 por tonelada para produtos canadenses e US$ 199,04 por tonelada para produtos norte-americanos, com validade inicial de até seis meses. A medida definitiva está prevista para ser decidida no primeiro trimestre de 2026, após conclusão da investigação que pode se estender por até 18 meses desde seu início em novembro de 2024.

A investigação foi iniciada em julho de 2024 a pedido da Braskem S.A., única produtora nacional de polietileno, que alegou práticas de dumping por exportadores canadenses e norte-americanos causando prejuízos à indústria brasileira. Segundo dados oficiais, de janeiro a julho de 2025, os Estados Unidos exportaram cerca de 4 mil toneladas de polietileno para o Brasil, representando 87% das importações nacionais do insumo no período.

Contexto do mercado brasileiro de polietileno

O Brasil sempre foi dependente de importações de polietileno. Historicamente, a produção local atendia a 70% da demanda, enquanto o restante era suprido pela importação. Contudo, nos últimos anos esse número sofreu alterações, com a produção nacional atendendo apenas 50% da demanda. As importações de polietileno vêm crescendo significativamente, com os Estados Unidos sendo o maior exportador para o Brasil, seguido por Argentina e Canadá, sendo que 70% das importações brasileiras vêm da América do Norte.

A participação de mercado das importações norte-americanas e canadenses de polietileno cresceu de cerca de 15% em 2020 para mais de 40% do mercado atual. Esse crescimento se deve a diversos fatores, incluindo o aumento da demanda local sem expansão proporcional da capacidade nacional, o grande aumento da capacidade produtiva global e a busca por alternativas ao monopólio nacional.

Impactos das medidas antidumping

Para a Braskem: Analistas estimam que as tarifas antidumping podem gerar um impacto positivo de US$ 200 a 250 milhões no EBITDA anualizado da Braskem, considerando uma combinação de maior participação de mercado (aumento de 10 a 15 pontos percentuais na taxa de utilização) e margens mais altas (cerca de US$ 100 por tonelada).

Para os transformadores de plásticos: O cenário é desafiador. A medida pode resultar em aumento de preços das resinas entre 10% e 17%, impactando diretamente os custos de produção de embalagens e produtos plásticos. Com o atual desaquecimento da demanda brasileira, os transformadores podem enfrentar dificuldades para repassar esses aumentos aos clientes, pressionando suas margens de lucro. Os transformadores de menor porte serão particularmente afetados devido à menor capacidade de negociação e competição no mercado.

Alternativas estratégicas para as empresas

Diante desse cenário, as empresas brasileiras do setor de transformação de plásticos precisam considerar diversas alternativas estratégicas:

1. Diversificação de fornecedores asiáticos

Com a sobretaxa sobre produtos norte-americanos e canadenses, fornecedores asiáticos surgem como alternativas viáveis, apesar dos fretes mais caros e prazos de entrega mais longos. O mercado já vem observando crescimento expressivo nas importações de países como:

Egito: As exportações de polietileno do Egito para o Brasil cresceram 2.529% no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024, já representando 2% do volume total importado. O Egito manifestou interesse oficial em se tornar um grande fornecedor da indústria petroquímica brasileira. Além disso, o país não é afetado pela medida antidumping e pode oferecer preços competitivos.

China: Embora a China seja um grande produtor global de polietileno, as empresas devem estar atentas a possíveis medidas antidumping futuras, já que o país está sob investigação em outros segmentos de resinas.

Emirados Árabes Unidos: A Borouge, joint venture entre a Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC) e a austríaca Borealis, é um dos maiores produtores de poliolefinas do Oriente Médio. Com sua expansão Borouge 4, a empresa se tornará o quarto maior produtor de poliolefinas do Oriente Médio e Ásia-Pacífico, aumentando sua capacidade de produção em 1,4 milhão de toneladas. A empresa utiliza tecnologia proprietária Borstar e oferece polietileno bimodal de alta qualidade para tubos, embalagens e outras aplicações.

A Borouge, joint venture entre a Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC) e a austríaca Borealis, é um dos maiores produtores de poliolefinas do Oriente Médio.

Arábia Saudita: A SABIC (Saudi Basic Industries Corporation), uma das maiores empresas petroquímicas do mundo, é líder na produção de polímeros incluindo polietileno. Em 2022, a Arábia Saudita exportou US$ 2,73 milhões em polímeros de etileno, sendo responsável por mais de dois terços da produção de resinas poliméricas do GCC (Conselho de Cooperação do Golfo). A SABIC também está investindo em plásticos circulares certificados através de sua plataforma TRUCIRCLE.

Argentina: As importações da Argentina cresceram 180% no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024, representando 14% do volume total importado pelo Brasil.

2. Aproveitamento da Zona Franca de Manaus

Existe um crescimento importante de material importado entrando por Manaus (ao redor de 60%), beneficiando-se da Zona Franca. Empresas podem avaliar a viabilidade de estabelecer operações ou parcerias na região para aproveitar os benefícios fiscais e reduzir o impacto das tarifas antidumping, se ainda não o fez. A aplicação do antidumping pode inclusive incentivar a abertura e expansão de plantas de transformação de polietileno na Zona Franca.

3. Investimento em economia circular e reciclagem

Os esforços em economia circular têm sido bem-sucedidos no Brasil, envolvendo todos os participantes da cadeia produtiva dos plásticos, dos catadores às indústrias de resinas e brand owners. Diante do aumento dos preços das resinas virgens, algumas indústrias podem buscar alternativas como materiais reciclados ou outros tipos de plásticos, reduzindo a dependência do polietileno virgem importado. A transição para materiais reciclados pode não apenas reduzir custos, mas também atender às crescentes demandas de sustentabilidade dos consumidores e reguladores.

4. Negociação direta com a Braskem

Com o fortalecimento da posição da Braskem no mercado, empresas de maior porte podem buscar contratos de longo prazo diretamente com a petroquímica nacional para garantir preços mais estáveis e previsíveis. Embora o monopólio seja um desafio, a negociação estruturada pode resultar em condições comerciais mais favoráveis.

5. Planejamento de estoque estratégico

Considerando que a medida provisória tem validade de seis meses e a decisão definitiva está prevista para o primeiro trimestre de 2026, as empresas devem realizar planejamento estratégico de estoques. Importadores podem avaliar a antecipação de compras antes da aplicação de medidas definitivas, caso seja confirmada a continuidade das sobretaxas.

6. Desenvolvimento de produtos com materiais alternativos

Empresas podem investir em pesquisa e desenvolvimento de produtos que utilizem materiais alternativos ao polietileno, como bioplásticos, polipropileno ou outros polímeros que não estejam sob medidas antidumping. Essa diversificação pode reduzir a dependência de um único insumo e aumentar a resiliência da cadeia de suprimentos.

7. Formação de consórcios de compra

Transformadores de menor porte podem se unir em consórcios ou cooperativas de compra para aumentar seu poder de negociação tanto com fornecedores internacionais quanto com a Braskem. A compra em volume maior pode resultar em melhores preços e condições de pagamento.

8. Acompanhamento jurídico das medidas

Importadores devem estar atentos aos prazos legais e podem se manifestar como partes interessadas no processo de investigação antidumping. O acompanhamento jurídico especializado pode identificar oportunidades de redução de impactos ou exclusões específicas.

Perspectivas futuras

É importante ressaltar que o Brasil já possui diversas medidas antidumping em vigor para outros polímeros, incluindo PET (até novembro de 2027), PVC-S (até agosto de 2025) e polipropileno de países como Estados Unidos, África do Sul e Índia (com vencimentos variados até 2027). Esse histórico indica que as medidas antidumping fazem parte de uma estratégia mais ampla de proteção à indústria petroquímica nacional.

O Oriente Médio está se consolidando como um importante polo produtor de polietileno. Projetos como o complexo da Chevron Phillips Chemical com a Qatar Energy no Catar, que deve entrar em operação no final de 2026 com capacidade de 1,68 milhão de toneladas por ano de PEAD, irão aumentar significativamente a oferta global. Esse mega excedente mundial pode alcançar 26 milhões de toneladas por ano entre 2024 e 2030.

Para os transformadores brasileiros, a chave está na diversificação estratégica de fornecedores, aproveitamento de alternativas asiáticas e do Oriente Médio, investimento em economia circular e planejamento cuidadoso para mitigar os impactos do antidumping. Embora o cenário apresente desafios significativos no curto prazo, especialmente considerando o atual desaquecimento da demanda brasileira, as empresas que adotarem uma abordagem proativa e multifacetada estarão melhor posicionadas para navegar por esse período de mudanças no mercado de polietileno.

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